Silêncio
Na infância era apenas “shh…”. Uma onomatopeia inocente para me manter calma, em silêncio.
Um pouco mais tarde o acalento se torna um pedido, vira uma frase com todas as suas letras.
O desconhecimento e a obediência me mantiveram em silêncio até a pré adolescência.
No entanto, quando falei, minha voz não mais importava.
Gritei com meu corpo, da adolescência até a juventude só ele me ouvia. As marcas não me são motivo de orgulho.
O pedido se tornou ordem, “cale a boca”, “os vizinhos vão ouvir”, “pare de chorar”.
Não parei, mas não sou mais ouvida.
Hoje eu tenho medo que me escutem, choro sem fazer barulho, me escondo.
Abaixo o tom de voz quando creio que não mereço ser ouvida e acredito nisso com tanta frequência que sufoca.
Me afogo e me desespero, abro o chuveiro para poder chorar, grito em silêncio…
Silêncio.
Fique quieta.
Shhh…