O medo de pertencer

Julia Machado
2 min readMay 24, 2020

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Não é de hoje que eu percebo certos sinais e me apavoro com a percepção da existência deles, também não é de hoje que eu tenho esse medo todo. Não surgiu do nada essa sensação de que a minha mente me prega peças e de que a todo momento eu estou vendo coisas em lugares onde nada existe.

Todavia, tenho a impressão de que venho me abrindo e me entregando cada dia com mais intensidade ao que vejo — mesmo sem saber se existe.

O pressentimento de estar adentrando em um mar de águas turvas e profundidade desconhecida me atrai e ao mesmo tempo me apavora. Não, esse mar não é você, sou eu mesma e os sentimentos que ainda me são desconhecidos.

Por incrível que pareça eu sei que o que me preocupa não são os sentimentos que você sente ou deixa de sentir, mas sim os sentimentos que eu insisto em esconder de mim mesma — e de você também — com tanta veemência.

Durante algum tempo acreditei estar a salvo desse tipo de sensação, confiei que já havia vivido situações traumáticas o suficiente pra reconhecer o perigo da entrega e simplesmente desistir de pertencer a alguém. É aí que você entra.

Eu permiti a sua entrada na minha vida porque eu te via como apenas mais um deles. Aqueles aos quais eu me entreguei mas jamais pertenci, aos quais eu nunca quis pertencer.

Acreditei que você seria só mais um dos que eu não quero dormir ao lado.

Agora, me vejo tentando te decifrar e, além disso, te vejo pedindo que eu desarme minhas barreiras. Pior, também me vejo abrindo mão de certas defesas por ti.

As vezes penso em desaparecer, te poupar de toda essa bagagem de traumas e ansiedades que carrego comigo. Depois, repenso, o que mais tenho a perder, senão o que resta da minha sanidade?

E por mais que soe como uma declaração, esse texto não é sobre você. Esse texto é sobre mim, sobre meu medo de pertencer, sobre o pânico que eu sinto ao pensar que existe alguém que me quer.

Não sei se estou pronta para ser tua.

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